O fundo do poço está longe


O fundo do poço está longe

Por Valter Batista de Souza, professor e especialista em Gestão Pública

Artigo publicado no Jornal Diário do Litoral em 04/05/2015

Em meio a uma pauta recheada de assuntos, um assalto digno de ser televisionado. Em frente ao Paço Municipal de Guarujá, repórter com microfone na mão, entrevistado discorrendo sobre a epidemia de dengue que acomete a cidade, operador de câmera entretido com o melhor enquadramento de imagens e milhares de pessoas assistindo ao vivo. De repente irrompe um cidadão com arma na mão e anuncia o assalto. Sai a imagem do ar, vida segue. Não, as imagens ganharam o mundo. O nome da cidade novamente denotando violência e insegurança.
Onde é o fundo do poço? Não há resposta. Seria um assalto ao vivo, em frente às câmeras de TV? Ou uma cidade que precisa admitir que não dá conta de manter meia dúzia de fontes funcionando em suas praças, por isso decidiu aterrá-las? Seria, ainda, a incapacidade de gerenciar um Pronto Socorro num Distrito onde residem mais de 150 mil pessoas, população superior à grande maioria das cidades brasileiras? Ou apenas o fato de que não se pode assegurar aos cidadãos que, necessitando de atendimento médico, encontrarão um deles de plantão em uma unidade de saúde? Se nada disso é ainda o fundo do poço, o que será?
À vista de todos os fatos que temos observado e vivido ao longo dos últimos seis anos e meio, é quase impossível afirmar que a cidade avançou em alguma coisa. Ah, esquecia-me de conquistas trabalhistas recentes para o funcionalismo público municipal. Professores tiveram redução de Jornada de Trabalho. Sim, tiveram, mas porque é Lei Federal, a qual não sendo cumprida, expõe a gestão a improbidade administrativa. Ainda assim, perdas se acumularam. A inflação galopou e os reajustes não. Até greve contra a indecência de um reajuste de meio por cento teve que ser deflagrada. O fundo do poço ainda não foi a greve? Pois é, não deve ter sido.
Denúncias tantas de improbidade e má gestão se acumularam ao longo dos últimos anos, merenda superfaturada, produtos em desconformidade sendo entregues nas escolas, a falta de uniformes, material escolar, contratos suspeitos de consultoria, nepotismo com a nomeação do marido da Prefeita para cargo de confiança, a filha de um dos maiores fornecedores da Prefeitura sendo nomeada para substituir a Prefeita em sua ausência, colocando o vice-prefeito de escanteio e a Constituição Federal no lixo, três Comissões Processantes abertas em cima de fatos documentados e que gerariam uma crise institucional gravíssima em qualquer cidade brasileira, mas por aqui, nem isso é o fundo do poço.

Nada parece abalar a confiança de quem tem trabalhado todos os dias para desconstruir a imagem de Guarujá. Mas o fundo do poço ainda não chegou. Só temos um caminho. Esperançar! Buscar no horizonte um caminho mais seguro para sairmos desta inércia e de uma vertiginosa queda à qual estamos submetidos. É hora de pensarmos a cidade. Olharmos para a frente. O futuro será construído por nós mesmos. Toda esta incompetência já é passado. Falta pouco. Muito pouco. 

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